sexta-feira, 3 de julho de 2015

Quinta do Noval Porto Vintage 2011


A escala americana, "inventada" por Robert Parker há décadas, sempre teve seus críticos. A questão de transformar o vinho em matemática é um argumento válido de seus detratores, mas é inegável a contribuição que ela deu ao mundo no sentido da comparação linear e numérica entre vinhos: nota maior, vinho melhor.

O nosso grande problema com essa escala sempre foi o parâmetro: como definir os 100 pontos, o máximo, a perfeição? Tem muito blogueiro por aí que dá suas notas, todas indubitavelmente honestas e sinceras, baseadas numa comparação entre sua escala pessoal e a escala de algum crítico famoso, seja ele Robert Parker, Jancis Robinson, James Suckling, Marcelo Copello e por aí vai. Mas se o cara nunca provou um vinho que pudesse considerar perfeito, como fazer a ponderação? Só como repeteco das avaliações profissionais? E se esse sujeito vai lá, toma um Romanée-Conti 2012 e acha que esse vinho vale 90 pontos? Toda a escala dele vai ter que ser reconstruída? Esse blog só foi criado quando a gente teve certeza do que era um 100 pontos, um vinho perfeito. Melhor ainda que ele não tenha recebido a nota máxima de nenhum dos críticos citados acima, apesar de ter chegado bem perto.

A Quinta do Noval é o produtor mais lendário de Vinho do Porto, muito por causa do seu ícone, o Quinta do Noval Vintage Nacional, advindo de uma pequena parcela de vinhas velhas não enxertadas. Muitos consideram o Vintage Nacional o maior vinho não-francês do mundo.
A gente teve o prazer de provar não o Nacional, mas o seu irmão menor, o Vintage "regular", numa prova em que também experimentamos o Graham's Vintage e o Taylor's Vintage, todos da safra memorável de 2011. E aí que está o negócio: o Graham's e o Taylor's eram melhores? Eram. Tecnicamente melhores. Mas o Noval foi a grande estrela da noite.

O litoral sul paulista tem uma árvore, cuja espécie nós não sabemos qual é, que exala um cheiro doce muito forte em certos dias do verão: algo entre um floral tropical e um vegetal úmido. Esse cheiro faz parte da nossa memória afetiva: especialmente eu (Bruno) tenho esse cheiro muito bem guardado de todos os verões passados na praia durante a infância, o tempo com a família, os avós, as chuvas no fim da tarde. O Quinta do Noval cheira a isso. Para um crítico que não tenha tido nossa experiência, ele tem um caráter floral e vegetal, com algumas notas minerais e muita fruta. Para a gente, cheira à memória, cheira à infância.

Essa é a definição de um vinho perfeito: tanto gerador como reavivador de memórias. Claro que nesse ínterim ele tem que ser perfeitamente construído, e é: taninos de seda, ultra concentrado, estrutura para durar e se desenvolver por décadas, apresentando as notas olfativas já mencionadas aliadas a uma fruta muito fresca na boca e a um final interminável.

O Graham's é mais sedoso e tem uma complexidade ainda maior no nariz? Sim. O Taylor's tem uma estrutura quase arquitetônica e uma austeridade que lhe confere um caráter mais sério? Sim. Mas esse é o nosso vinho perfeito. Independentemente de quantos Pétrus, Cheval Blanc, Lafite, Romanée-Conti e até mesmo os Noval Vintage Nacional que possam vir por aí ( e tomara que venham mesmo!), ninguém tira a sensação do que foi tomar o Quinta do Noval Porto Vintage 2011.


Avaliação Vinhozin: 100 Pontos/ 100 (Escala Americana)

Preço no Brasil: Está indisponível na sua importadora, a Adega Alentejana, em São Paulo. Se achar alguma garrafa por aí, deve estar entre 600 e 800 reais.
Preço no exterior: 130 euros na Garrafeira Nacional, em Lisboa.

Vale a pena? Pelo menos uma vez na vida!

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